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sexta-feira, 8 de junho de 2012

Bolonha e as Universidades: uma estratégia ou apenas um "acordo"?

Bolonha e as Universidades: uma estratégia ou apenas um "acordo"?


No passado dia 30 houve mais uma conferência ministerial sobre BOLONHA.
Ao todo já aderiram a este "processo" 47 países da Europa e não só!

No entanto, mesmo quem já aderiu, como Portugal, continua a descrever BOLONHA como sendo, unicamente, uma simples alteração do número de anos para concluir uma Licenciatura, um Mestrado ou um Doutoramento.

Mas não é!

Com "Bolonha" começou-se a projetar uma Europa diferente, a pensar mais longe e iniciou-se um processo que poderá, um dia, conduzir-nos à criação do Espaço Europeu de Ensino Superior (EHEA).

Se juntarmos a isto a consolidação, prevista para 2014, das "regras"  para o que virá a ser o Espaço Europeu de Investigação (ERA), conseguiremos, provavelmente, na Europa, constituir um "Mercado Comum" de Educação e Ciência (e desculpem a expressão Mercado) o que só poderá conduzir a um maior fortalecimento, uma maior competitividade e um maior reconhecimento das nossas Instituições de Ensino Superior e de Investigação; logo um futuro melhor para as gerações futuras.

Parece uma moda falar em competitividade mas, na realidade, a Europa está a perder algum terreno nestas áreas, tem falta de graduados em áreas importantes, tem muita boa investigação fundamental mas tem falta de transferência para empresas, produz poucas patentes viáveis.

E isto é a Europa, não estou a falar de Portugal!

A Europa, tirando honrosas excepções, tem necessidade de modernizar a maioria das suas Instituições de Ensino Superior, de facilitar a mobilidade de docentes, investigadores e estudantes, de acelerar e tornar mais eficiente o diálogo Universidade: Investigação: inovação/Empresas.

A ERA tem que vir a ser um sucesso! Os objectivos deverão ser atingidos de forma consensual, pragmática e operacionalizáveis no terreno (a este propósito sairá um Comunicado da Comissão durante este mês).

E tem que se pensar também na EHEA.

O processo de Bolonha, ao qual eu sou favorável, (e sobre o qual tenho a certeza que ainda nenhum país conseguiu, sequer, atingir uma ínfima parte do que é proposto), tinha uma agenda visionária e ambiciosa: adequar os métodos de ensino aos "tempos modernos"; facilitar a mobilidade de docentes e alunos; fortalecer as Instituições de Ensino Superior facilitando o estabelecimento de parcerias entre elas; reconhecer aos estudantes as chamadas "soft skills" ou seja reconhecer que na maioria das circunstâncias da nossa vida, aprendemos; promover a qualidade e a avaliação da aprendizagem  e do ensino (transferência de conhecimentos) por métodos objectivos.

Mas, como já disse, falta quase tudo; tirando a "cosmética" do número de anos e de graus, pouco mais se fez:

·         a avaliação dos curricula dos cursos já é, em muitos casos feita por agências independentes (a "nossa"  A3ES), a avaliação de docentes, por outro lado, não é uniforme.

·         o reconhecimento de competências, ou das "soft skills" não é homogéneo, os créditos das unidades curriculares estão atribuídos sem qualquer relação com o esforço solicitado ao estudante, e a decisão de "passar" ou "chumbar" continua a estar dependente, na maioria dos casos, de um exame final.

·         os estudantes obtêm um diploma, com um suplemento que pretende informar sobre as "soft skills". Contudo, entre as instituições de um mesmo país, os critérios são díspares e, muitas vezes, não se reconhecem os créditos adquiridos noutras instituições estrangeiras ou nacionais: se o estudante beneficiou da mobilidade Erasmus, mesmo assinando um acordo prévio, muitas vezes não se reconhecem os créditos adquiridos na outra Instituição (a este propósito, inclusive, saiu uma reportagem no SOL de 7/6/2012);

·         se em vez de créditos ou de unidades curriculares, nos referirmos a graus, então o panorama entre Países ainda é pior.

Para além de muitos outros aspectos, o reconhecimento de graus continua a ser uma miragem!

Na última reunião de Ministros, em Bucareste, como em tantas outras, discutiu-se e aprovou-se um comunicado que vinha sendo debatido, entre as partes, desde há perto de seis meses.

O importante foi que, na véspera da aprovação, foram introduzidas pequenas alterações, posteriormente ratificadas, que, na minha opinião, são o primeiro sinal de que virá a ser possível termos um EHEA.

A alteração a que atribuo maior significado foi o acordo para introduzir, no comunicado final, o desejo de se vir a conseguir, ainda que a prazo, o reconhecimento automático de graus comparáveis.

A esta alteração foi adicionada uma outra para que seja constituído um "grupo de países que estude e explore os meios necessários para se vir a conseguir o tal "(long term) reconhecimento automático", primeiro entre os países que constituam o tal grupo, alargando-o de seguida a outros que o desejem.

Considero este, provavelmente, o maior passo para se vir a constituir efetivamente um Espaço Europeu de Ensino Superior e que possamos, realmente, configurar a Europa como o mercado de trabalho alargado para os nossos jovens.

Acho este o maior passo para podermos evoluir não só no ensino, mas também na investigação científica e na capacidade criativa e de inovação.

Acho que, atingir este objectivo, será um marco significativo para o ensino superior na Europa.

O grupo de países, do tal grupo "explorador", inclui todos os que se dispuserem a embarcar nesta aventura!

Portugal devia estar neste grupo!

LINKS: principais documentos da reunião Ministerial,  Bucareste Abril 2012



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